A ambiciosa incursão da Apple em Hollywood está enfrentando obstáculos, já que a mudança de estratégia da empresa em relação aos lançamentos teatrais está alienando alguns de seus parceiros criativos mais renomados. A mais recente repercussão veio do diretor de Wolfs, Jon Watts, que anunciou que está se afastando da sequência do filme com George Clooney e Brad Pitt após a Apple cancelar seu planejado lançamento amplo nos cinemas.
Watts disse ao Deadline que a decisão da Apple minou sua confiança, forçando-o a devolver discretamente o dinheiro que recebeu pelo projeto. O incidente lança luz sobre as crescentes tensões entre a cautela financeira da Apple e as expectativas de Hollywood em relação aos compromissos teatrais.
O Conflito: Lançamentos Amplos versus Foco em Streaming
A Apple originalmente deu luz verde para uma sequência de Wolfs, impulsionada pelo seu desempenho recorde no Apple TV Plus como o “filme de longa-metragem mais assistido” na plataforma. No entanto, o lançamento teatral do filme foi cancelado na última hora, com a empresa optando por priorizar o streaming. Essa mudança aparentemente decorreu da preocupação da Apple em gastar demais em lançamentos amplos após várias decepções nas bilheteiras.
A mudança deixou Watts se sentindo pego de surpresa. “Fiquei completamente chocado com a mudança de última hora da Apple em relação a um lançamento amplo nos cinemas,” ele disse ao Deadline. Watts também acusou a Apple de anunciar a sequência contra sua vontade, dizendo: “Eles ignoraram meu pedido e anunciaram isso… aparentemente para criar uma narrativa positiva para sua mudança para o streaming.”
A Estratégia em Mudança da Apple
A abordagem da Apple reflete uma cautela mais ampla em seus investimentos em filmes. O New York Times relatou em agosto que a Apple está reduzindo suas ambições teatrais, reservando lançamentos amplos para um ou dois “grandes investimentos” por ano, como seu próximo drama sobre corridas de F1. Em vez disso, a empresa está se concentrando em orçamentos menores e lançamentos limitados, uma estratégia que funcionou bem para The Instigators de Doug Liman.
Liman descreveu uma experiência positiva ao trabalhar com a Apple em The Instigators, observando que a empresa foi transparente sobre suas intenções de priorizar o streaming. No entanto, nem todos os diretores compartilham de seu sentimento.
Consequências Criativas Mais Amplas
Watts não está sozinho ao expressar frustração com a abordagem da Apple. O diretor Steve McQueen recentemente manifestou decepção com o lançamento teatral limitado de seu filme sobre a Segunda Guerra Mundial, Blitz. Embora McQueen tenha elogiado a liberdade criativa que a Apple permitiu durante a produção, ele disse que a decisão de limitar o público do filme o “entristeceu”.
Essas preocupações ecoam um desafio mais amplo que as empresas de tecnologia enfrentam ao navegar pelo mundo do cinema tradicional. Equilibrar as expectativas de Hollywood para lançamentos amplos com as realidades financeiras dos modelos de streaming prioritário muitas vezes leva a atritos.
Uma Nova Realidade em Hollywood?
A estratégia cautelosa da Apple não é única. Outros gigantes do streaming, como a Amazon, também restringiram suas ambições teatrais, optando por focar no sucesso do streaming em vez da glória nas bilheteiras. Doug Liman, que trabalhou tanto com a Apple quanto com a Amazon, destacou essa tendência em uma entrevista de julho com a IndieWire, compartilhando sentimentos mistos sobre o cenário em evolução.
Para a Apple, essa mudança pode ser um sinal de maturidade estratégica. A empresa planeja, segundo relatos, gastar menos por filme enquanto continua a investir em projetos de alto perfil, como Killers of the Flower Moon, de Martin Scorsese. No entanto, essas decisões podem alienar os diretores e atores que a Apple precisa para competir com os estúdios tradicionais.