À medida que a revolução dos veículos elétricos (VE) avança, a arte tradicional de trocar marchas está morrendo lentamente. Enquanto alguns fabricantes, como a Hyundai, tentam desesperadamente se apegar ao passado simulando trocas de marcha em seu Ioniq 5 N, outros estão ativamente empurrando os limites com transmissões manuais de mercado de reposição para VEs. Mas a Porsche? Eles traçaram uma linha na areia.
Lars Kern, piloto de desenvolvimento da Porsche, rejeitou de forma contundente a tendência em uma entrevista ao Drive. Ele revelou que, apesar de acompanhar de perto os rivais, a Porsche não tem intenção de entrar na onda das trocas de marcha artificiais. Por quê? Porque, segundo Kern, isso é um retrocesso. “Por que deveríamos fazer algo pior?” Kern zombou. Ele argumenta que os motores elétricos, com seu torque instantâneo e entrega de potência contínua, são inerentemente superiores aos motores de combustão interna (MCI). Então, por que se preocupar em imitar uma tecnologia ultrapassada?
É uma postura ousada de uma marca que não hesita em se contradizer. Afinal, a Porsche não teve vergonha de colocar o emblema “Turbo” no Taycan totalmente elétrico—um nome tradicionalmente reservado para carros com turbocompressores reais. E eles estão fazendo isso novamente com o próximo Macan EV, que, você adivinhou, também levará o nome “Turbo”, apesar de ser sem turbo. Será que isso é a Porsche se agarrando à nostalgia ou simplesmente capitalizando um nome que vende?
Apesar disso, Kern se mantém firme. Ele insiste que forçar mudanças de marcha em um veículo elétrico seria um desserviço ao potencial da tecnologia. E ele não está errado. O Taycan, com sua engenhosa transmissão de duas marchas, já prova que a Porsche sabe como aproveitar a potência elétrica tanto para acelerações impressionantes quanto para cruzeiros em alta velocidade. Mas não espere que a Porsche recue e comece a fingir que seus EVs são motores de combustão. “Não queremos fingir”, declarou Kern, descartando a ideia de que a Porsche alguma vez diluiria sua habilidade de engenharia por um truque.
Curiosamente, a Porsche admite que uma vez flertou com a ideia de mudanças de marcha artificiais. Mas após testar o Hyundai Ioniq 5 N—um carro elogiado por suas características inovadoras—, a equipe da Porsche saiu desapontada. O veredito? Não é para eles, e eles não vão comprometer a identidade da marca para seguir uma tendência.
Esse compromisso com a autenticidade está entrelaçado na estratégia de eletrificação da Porsche. Enquanto o icônico Macan, Boxster e Cayman estão prestes a se tornarem totalmente elétricos, a Porsche está sabiamente mantendo seu Cayenne V-8 vivo ao lado de seu sucessor elétrico. A meta ambiciosa da empresa de ter EVs representando 80% de suas vendas até o final da década foi silenciosamente ajustada, reconhecendo que a transição para o elétrico é mais lenta do que o esperado.
Para a Porsche, está claro: o futuro é elétrico, mas não à custa de se submeter ao passado. Eles não estão interessados em ressuscitar sensações de condução à moda antiga apenas por causa da nostalgia. Em vez disso, estão focados em aperfeiçoar o que está por vir—uma experiência elétrica que é inegavelmente moderna e fiel ao ethos da Porsche.